12.6.09

Novo clima para os negócios

O aquecimento global deixou de ser uma preocupação exclusiva da ciência e do movimento ambiental. A pressão agora vem do mercado financeiro e dos consumidores - e as empresas têm de se preparar para isso

Por Sérgio Teixeira Jr., com reportagem de Alexa Salomão
Revista Exame - 12/2006

Executivos vivem cercados de números. Eles podem estar no mostrador do relógio, avisando o atraso para uma reunião importante, ou no calendário, sinalizando um prazo iminente. Também estão nas planilhas eletrônicas, apontando metas de faturamento, e no índice das bolsas, acompanhando o sobe-e-desce das ações. E existe um número novo, cujas implicações ainda não são muito claras, que precisa ser observado com cuidado especial nas empresas de todo o mundo: o do termômetro. O planeta está esquentando. As seguradoras perderam mais dinheiro com o furacão Katrina do que com os atentados de 11 de setembro de 2001. A área afetada por incêndios florestais dobrou e a devastação triplicou durante os anos 90 em relação às três décadas anteriores. Um aumento de temperatura de 2 graus centígrados, algo considerado muito provável no atual caminhar das coisas, pode provocar falta de água generalizada e afetar um sexto da população do planeta.

A emissão de gases que causam o efeito estufa, em especial o dióxido de carbono, continua crescendo, apesar do Protocolo de Kyoto e dos limites impostos aos países ricos. China e Índia continuam queimando carvão para empurrar sua economia adiante. O Brasil vive a situação ambígua de ser o país das hidrelétricas e do etanol, mas também de ser visto como o vilão do desmatamento da Amazônia. A conta não foi apresentada a essas três potências emergentes, embora ninguém duvide de que seja somente uma questão de tempo. O clima do planeta Terra nunca registrou alterações tão dramáticas quanto agora. A divulgação em série de pesquisas sobre o aquecimento global, o surgimento de profetas ambientais, como o ex-vice-presidente americano Al Gore, a superexposição do assunto na mídia global tudo faz com que surja um clima pré-apocalíptico. Pode haver muito de exagero nisso tudo, embora muitos cientistas garantam que não. Pode haver uma boa dose de marketing e de injustiça em relação aos países em desenvolvimento, pressionados por nações ricas que já deram sua cota de contribuição à devastação da natureza em nome do próprio progresso. Mas o fato éque o tema do aquecimento global ganhou uma dimensão que não pode ser ignorada. Transformou-se numa espécie de imposição do mercado. O problema só preocupava cientistas, mas agora éum dos assuntos mais importantes da política, da economia e dos negócios. E ele pode ser colocado em números.

O economista inglês Nicholas Stern publicou no final de outubro um estudo encomendado pelo governo britânico sobre o impacto do aquecimento global na economia. O relatório do ex-economista-chefe do Banco Mundial conclui que ações imediatas para reduzir a emissão de gases de efeito estufa podem custar 1% de toda a riqueza produzida no mundo anualmente, algo como 600 bilhões de dólares. Parece muito? Ignorar o problema custaria, segundo Stern, 20 vezes mais caro. Faz parte da natureza humana descontar o valor do futuro no presente. Mencionar uma alteração de 5 graus centígrados daqui a 100 anos éuma declaração quase esotérica. Pois essa foi a elevação da temperatura na Terra desde a última Era Glacial, 10.000 anos atrás. Se essa previsão pessimista para alguns cientistas, plausível para outros estiver correta, cidades como Nova York, Londres e Tóquio estarão debaixo d'água, mais da metade das espécies animais desaparecerá, a produção de alimentos estará seriamente ameaçada e o mundo verá o maior deslocamento de populações de todos os tempos.


http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/conteudo_220904.shtml

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